D. JOÃO VI - O CLEMENTE

(governou desde 1792, reinou desde 1816 a 1826)

A sensibilidade da rainha devia ter previsto os percalços que o país iria passar, por isso enlouqueceu.

Em 1789 tinha eclodido a Revolução Francesa, que proclamou a Declaração dos Direitos do Homem; em 1791 declarou a igualdade de todos os cidadãos perante a lei. Luís XVI, rei de França, tenta resistir e não assina certas decisões contra a nobreza e o clero. É condenado à morte e executado tal como aconteceu a sua mulher Maria Antonieta. Os reis da Europa sentem a corda no pescoço.

D. JoãoVI propõe a Londres e a Madrid uma aliança contra a República Francesa. Os Franceses preparam-se para atacar a zona dos Pirinéus. Portugal envia um contingente de tropas que vence as primeiras batalhas. No ano seguinte os franceses contra-atacam, os espanhóis cedem. Os portugueses são forçados a retirar. Foi a chamada Campanha do Rossilhão onde gastámos e sacrificámos, inutilmente, tropas e muito dinheiro.

Em 1795 a Espanha e a França assinam o tratado de paz de Basileia.

O papel moeda é introduzido em 1797.

Nesta época toma grande ascendência em Espanha, Manuel Godoy, ministro de Carlos IV e favorito da rainha Maria Luísa. O Godoy favorece mais os interesses Franceses do que os dos espanhóis, alia-se a França, declara guerra à Grã - Bretanha e pretende obrigar Portugal a repudiar a Aliança Inglesa.

Em 17 de Fevereiro de 1801, as tropas espanholas e francesas, bem equipadas e municiadas tomam Olivença, Campo Maior, Portalegre e Castelo de Vide. A 6 de Junho do mesmo ano é assinada a paz de Badajoz pela qual nos são devolvidas as praças tomadas, com excepção de Olivença. Foi a chamada Guerra das Laranjas.

Em França, salienta-se um jovem general que em 18 de Maio de 1804 se proclama imperador e sonha com a conquista do Mundo. A Inglaterra opõe-se, mas a máquina de guerra de Napoleão, bem preparada, vence as batalhas de Marengo, Austerlitz, Iena, Friedland, Wagram etc. Só no mar claudica ao ser batido em Trafalgar por Nelson.

A Grã-Bretanha, em 16 de Maio de 1806, determina um bloqueio continental por mar. A França replica com um bloqueio continental por terra. Portugal é intimado, por Napoleão, a fechar os portos aos ingleses, a prender os súbditos de sua majestade e a confiscar-lhes os haveres.

Perante a recusa portuguesa de satisfazer as exigências referidas, a França e a Espanha assinam em 27 de Outubro de 1807 o Tratado de Fontainebleau pelo qual Portugal era dividido em três partes: a Lusitânia Setentrional seria entregue ao Rei da Etrúria. O Algarve ficaria para Manuel Godoy. A Beira, Trás-os-Montes e a Estremadura para alguém a designar por Napoleão.

Um exército de trinta e nove mil homens, comandado por Junot, invade Portugal a 17 de Novembro de 1807. O Príncipe Regente, D. João e o resto da família Real é aconselhado a partir para o Brasil para não ser feito prisioneiro e ter de ceder às exigências dos invasores. Assim salvaguardava a independência de Portugal.

Os portugueses não resistiram aos invasores. Quando chegaram a Lisboa, os representantes dos Governadores do Reino foram recebê-los.

Junot não impede os roubos e as destruições da soldadesca. Manda substituir a bandeira portuguesa pela francesa e, a 1 de Fevereiro de 1808 demite os Governadores do Reino. Cria um Conselho de Governo, presidido por ele, exige uma contribuição de guerra no valor de cem milhões de francos, apossa-se de todos os bens da família Real e de quem a tinha acompanhado para o Brasil. Arregimenta 9000 portugueses, cria com eles a Legião Portuguesa, envia-os para combaterem ao lado de Napoleão.

O descontentamento é geral. Os espanhóis, que ocupavam o norte de Portugal, são obrigados a abandoná-lo por desentendimento com os franceses. O Norte aproveita a situação, o Porto aclama o Príncipe Regente. Voltam a substituir as bandeiras francesas pelas portuguesas.

Forma-se a Junta Provisional do Supremo Governo do Reino. São pedidos socorros à Grã-Bretanha. Chegam os ingleses, por mar, comandados por Wellesley. Portugueses e ingleses, a 17 de Agosto de 1808, batem os franceses na batalha de Roliça (perto do Bombarral). A 21 do mesmo mês, Junot é derrotado na batalha de Vimeiro (perto da Lourinhã).

É assinada a paz pela Convenção de Sintra que facilita, aos franceses, a saída do país com armas, bagagens e tudo aquilo que tinham pilhado.

Napoleão não se contenta. Envia o marechal Soult numa Segunda invasão. Entra por Chaves, passa Braga e toma o Porto que saqueia. A selvajaria é tanta que o povo foge aos milhares. A 29 de Março de 1809, dá-se o desastre da ponte das barcas onde morreram centenas de portugueses afogados no rio Douro.

O norte não fica indiferente. Francisco da Silveira Pinto retoma Chaves e vai sobre Braga. O exército anglo-português sai de Coimbra e derrota os franceses nos campos do Vouga. Soult não tem outra alternativa senão sair de Portugal. O general Wellesley derrota os franceses, já em terras espanholas, na batalha de Talavera pela qual lhe é concedido o título de Lord Wellington.

Napoleão é teimoso e ganancioso. Acha que Portugal ainda tem muito para roubar. Wellington, conhecendo-lhe os fracos, manda construir a linha defensiva de Lisboa. A chamada Linhas de Torres.

A terceira invasão entra em Portugal a 28 de Agosto de 1810, é comandada por Massena. Passa Almeida, depois de violentos combates. Chega a Viseu sem outra resistência de vulto. Ao entrar no Buçaco, os portugueses dão-lhe combate. Massena resolve saquear Coimbra e avançar sobre Lisboa mas, ao estudar as Linhas de Torres, vê que não lhe é possível ultrapassar as dificuldades. A 5 de Março de 1811 bate em retirada. O exército anglo-português persegue-o e derrota-o em Pombal.

A 12 de Abril de 1814, as forças portuguesas e inglesas celebram mais uma vitória em Tolosa.

A estrela de Napoleão deixara de brilhar.

O rei e a família real portuguesa não sentem grande vontade de regressar a Portugal. O Brasil passa de Vice-Reino a Reino, com a capital no Rio de Janeiro, e com a designação de Reino Unido de Portugal e Brasil.

A substituir Wellington ficou William Beresford, 1816 a 1820, encarregado de reestruturar o exército português. Beresford sabe que os portugueses não são fáceis de governar. Para o fazer tem de utilizar pulso muito firme.

Entre os descontentes da governação de Beresford está o General Gomes Freire de Andrade, Grão Mestre da Maçonaria, que é apoiado pelas lojas maçónicas de Espanha. Consta que pretende formar uma União Ibérica Liberal. Beresford, sabedor da conjura, denuncia-a aos Governadores do Reino que mandam enforcar o general e alguns dos seus cúmplices. O levantamento ficou conhecido como a conspiração de 1817.

A situação em Portugal é péssima. O rei não mostra intenção de voltar.

O desembargador Manuel Fernandes Tomás, José Ferreira Borges, José da Silva Carvalho e outros formam o Sinédrio (Assembleia consultiva).

Pretende-se a renovação do país e possivelmente a constituição de uma República Ibérica.

A 24 de Agosto de 1820 rebenta no Porto a revolução que ficou conhecida por Vintismo. Alastra pelo país. Lisboa adere. É instaurado o Regime Liberal pelo qual a Soberania Nacional passava para a Nação, com a representação nas Cortes. É a chamada Revolução de 1820 a que a Constituição de 1822 deu disposição jurídica e onde se estabelecia a independência dos poderes do Estado.

O rei é forçado a regressar do Brasil. Fica lá D. Pedro com o título de Regente do Brasil.

Os tempos tinham mudado. Os poderes de D. João VI eram diminutos ou nulos.

O rei jura a Constituição, mas a rainha, D. Carlota Joaquina, e o Cardeal Patriarca de Lisboa, recusam-se a fazê-lo.

O Congresso dá os primeiros passos. Alguns, bastante desastrados. O Brasil sofre a arrogância dos jovens deputados; são-lhe retirados os tribunais e variadíssimas prerrogativas concedidas pelo rei. Mandam ainda que D. Pedro regresse ao Reino. Este não aceita. É nomeado Defensor Perpétuo do Brasil e, a 7 de Setembro de 1822, lança o célebre grito do Ipiranga, por ter sido proferido junto ao rio do mesmo nome, " Independência ou morte! Estamos separados

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