D. FERNANDO - O FORMOSO

(reinou de 1367 a 1383)

D. Fernando tinha todas as condições para governar sem sobressaltos, mas a sua fogosidade amorosa e física fizeram que o seu reinado tivesse passado por momentos difíceis.

Envolve-se em guerras com Castela. Os exércitos, de um e de outro lado invadem terras e saqueiam povoações. O conflito termina em Março de 1371, pelo Tratado de Alcoutim, com intervenção de enviados do papa.

D. Fernando, para selar o contrato, aceita a mão de D. Leonor, filha do rei de Castela e esquece o compromisso de casar com a filha do rei de Aragão, também Leonor. Mas não casaria, nem com uma, nem com outra. Uniu-se com Leonor Teles, casada com João Lourenço da Cunha, muito bonita, intriguista, infiel e capaz de todos os actos mais desleais para satisfazer os seus caprichos.

D. Fernando conseguiu que o papa anulasse o casamento para ele poder casar com Leonor Teles no Mosteiro de Leça.

O povo nunca perdoou a Leonor Teles, e ela mandou torturar e enforcar os contestatários dos quais se salienta o alfaiate Fernão Vasques.

O rei de Castela também ficou à espera de uma nova oportunidade para se vingar, não só da afronta pela falta de palavra do rei, como de alguns ataques cometidos contra navios castelhanos.

D. Fernando, apesar da sua fraqueza amorosa, não descurava os interesses do Estado. No mesmo ano do casamento envia a Inglaterra, João Fernandes Andeiro, negociar a Aliança Luso-Britânica pelo Tratado de 16 de Junho de 1373.

Nessa altura, a Inglaterra e a França estavam envolvidas na guerra dos Cem Anos (1337- 1453), tempo durante o qual a França esteve ocupada, em parte, pelos ingleses. Estes achavam-se com direito ao trono francês devido a Eduardo III ser filho de Isabel, filha de Filipe o Belo, e o último rei dos franceses ter morrido sem descendência.

D. Fernando estava ao lado dos Ingleses. O rei de Castela D. Henrique colocou-se ao lado dos franceses. Como D. Fernando se mostrasse agressivo para com ele, este invade Portugal ocupa Almeida, Pinhel, Linhares, Celorico, saqueia Viseu e Coimbra, dirige-se para Lisboa. É o caos por todo o lado. D. Fernando encontra-se em Santarém. O Papa intervém e em 1373 é celebrada a paz.

Apesar de inconstante e fraco de palavra, D. Fernando era um homem muito inteligente e bom administrador.

Em 1375 instalou na Torre do Tombo o Arquivo Nacional Português. Guardam-se aí todos os documentos importantes que são a memória e a história de Portugal; muitos desses documentos foram roubados no tempo dos Filipes e durante as Invasões Francesas. Nunca mais os devolveram.

A Torre do Tombo é o arquivo Nacional Português. Foi-lhe dado este nome porque no ínicio estava sediado numa Torre do castelo de São Jorge, e tombo, porque tombar significa lançar em livro, inventariar, registar. Hoje encontra-se num edifício da cidade Universitária de Lisboa. É um dos acêrvos históricos mais importantes do mundo.

Neste mesmo ano é publicada a Lei das Sesmarias. Determinava que todas as terras fossem lavradas e cultivadas. Quem não pudesse ou quisesse cultivar as suas propriedades era obrigado a deixá-las cultivar por outros, caso contrário, a justiça tomava conta delas e entregava-as a quem as cultivasse. Aos agricultores com mais dificuldades era-lhes fornecido gado. Por outro lado, todos os que não tivessem trabalho; os vadios e os falsos religiosos eram obrigados a trabalhar na agricultura.Para que a lei fosse acatada, foram nomeados dois sesmeiros para verificar o cumprimento da mesma. Isto fez que o país se auto-abastecesse e houvesse mantimentos para todos.

A marinha mercante teve um grande incremento. Autorizou que os construtores de barcos de mais de cem tonéis cortassem a madeira necessária nas matas reais sem que para isso tivessem de pagar qualquer quantia. Os materiais importados para os barcos também estavam isentos de pagar direitos.

Em 1380 criou ainda a Companhia das Naus que funcionava como companhia de seguros, o que evitava a ruína dos homens do mar.

D. Fernando aperfeiçoa o exército, manda construir castelos e muralhar Santarém, Óbidos, Coimbra, Viana, Leiria, Alenquer, Évora, Lisboa e Porto.

Em 1382, D. Fernando, institui D. Álvaro Pires de Castro, primeiro condestável do reino (chefe do exército).

Em 12 de Junho de 1383 é determinado que Lisboa seja iluminada com candeeiros de azeite.

O rei Henrique, de Castela, morre mas D. Fernando, como um português teimoso e insensato, pede auxílio aos ingleses e resolve atacar Badajoz. D. João I de Castela cerca Elvas e destrói, em Saltes, a armada portuguesa.

Chegam os ingleses mas, em vez de nos ajudarem, começam a saquear todas as terras por onde passam. Os Portugueses, em vez de um inimigo, passaram a ter dois. Aparece, entretanto, pela primeira vez, D. Nuno Álvares Pereira que consegue suster as investidas no Alentejo e moderar os ímpetos dos soldados ingleses.

É preparado um grande combate junto ao Caia. As partes em litígio acabam por se entender. São concertadas as pazes em 10 de Agosto de 1383.

Três guerras inúteis, desgastantes e sem nenhum sucesso ou benefício para este rei voluntarioso que gastou as forças, a juventude e a vida sem necessidade.

A sua filha única deu-a em casamento ao rei de Castela. Ele sabia o que isso queria dizer: que o rei de Castela tinha adquirido direitos sobre a coroa portuguesa, o que fatalmente iria criar graves problemas a Portugal. Morre aos trinta e oito anos crivado de amargura, de arrependimento dos erros e altamente preocupado pela situação em que deixa Portugal.

A CRISE de 1383 - 1385

Em 2 de Abril de 1383, em Salvaterra de Magos, no próprio ano da sua morte, D. Fernando confirmava o pacto que fizera com D. João I de Castela. No trato ficava ajustado que, se D. Fernando tivesse um filho varão, este seria o herdeiro do reino, caso isso não acontecesse, o mesmo pertenceria a sua filha Beatriz. Se D. Beatriz e D. Fernando morressem sem filhos, herdaria Portugal o rei de Castela. Caso o rei de Castela e sua irmã morressem sem sucessores, o reino de Castela pertenceria ao rei de Portugal. E ainda se D. Beatriz não tivesse um filho com mais de catorze anos, o reino de Portugal seria governado pela rainha D. Leonor.

Explicando isto com toda a simplicidade: os reis eram donos dos países que governavam. À sua morte podiam entregá-los a quem entendessem. Não era falta de patriotismo, era o costume. Todo o território governado pelo rei pertencia-lhe a ele e aos familiares. Mesmo que os povos fossem diferentes, eles pensavam que ficando tudo em família, ficariam mais protegidos.

Ninguém imaginava que o rei D. Fernando morresse nesse mesmo ano. Herdou a coroa D. Beatriz. Ficou Regente Leonor Teles.

Leonor Teles demite, os judeus, de todos os cargos públicos, julgando assim cativar os portugueses, mas estes não lhe perdoaram a sua conduta anterior e o carinho com que tratava o amante e conselheiro, o fidalgo galego João Fernandes Andeiro, que fizera conde de Ourém.

Ao ser proclamada rainha D. Beatriz, o povo sente que pode ficar sob o domínio de Castela. Em Lisboa, os homens mais doutos: o antigo chanceler Álvaro Pais, Lopo Vasques, D. João Afonso Telo, irmão de Leonor Teles, Vasco Lourenço, Fernão Álvares, Nuno Álvares Pereira tentam alertar a população para o perigo iminente que a Pátria corre.

Começa-se a pensar quem devia ser o rei escolhido. Aponta-se D. João, Mestre de Avis, que era filho bastardo de D. Pedro e de D. Teresa Lourenço.

A intuição de Leonor Teles deve-lhe ter sussurrado que o perigo soprava daquele lado e envia o jovem fidalgo como fronteiro (capitão de uma praça forte junto à fronteira) para a raia do Guadiana. D. João finge que aceita mas volta ao Paço, estávamos a 6 de Dezembro de 1383. Encontra João Fernandes Andeiro com Leonor Teles. Chama-o de parte e apunhala-o.

Pela cidade espalha-se a notícia que querem matar o Mestre. O povo acorre em massa e o Mestre de Avis é aclamado Regedor e Defensor do Reino.

Forma-se o Governo. João das Regras é nomeado chanceler-mor. Nomeia um conjunto de personalidades para formar o Conselho que há-de dirigir o país enquanto não ficar decidido qual o rei escolhido.

Leonor Teles, que está em Santarém, chama o genro, D. João de Castela. Este, atravessa a

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