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 A corte pulula de intelectuais. Privilegia-se o duelo da palavra em vez do duelo da espada. 
O rei é um intelectual. É o maior poeta deste período. 
A língua portuguesa começa a 
tomar forma. Está a querer passar do português arcaico ao português moderno. Em 1296 
a Chancelaria Régia, opta pelo português como escrita 
oficial.
 Em 1297 é assinado o Tratado de 
Alcanises pelo qual se fixaram, definitivamente, as 
fronteiras de Portugal até aos nossos dias.
 Portugal é um dos raríssimos países do mundo com fronteiras estáveis desde o 
século XIII. Isso deve-se à qualidade excepcional dos primeiros reis e ao carácter 
independente do povo.  
 D. Dinis cria mercados e feiras francas por todo o país. Manda semear, arrotear e 
enxugar terras. Nuns lados divide as terras em casais, noutros adopta o regime colectivista, a parceria ou a jugada. Decreta que os fidalgos e nobres não percam nobreza e honras ao 
tornarem-se lavradores. É semeado o pinhal de Leiria que, além de impedir o avanço das dunas, 
vai proporcionar a madeira para a construção dos barcos.  Proíbe que as ordens religiosas 
adquiram bens de raiz para que a terra seja melhor dividida. Aumenta as relações comerciais e 
diplomáticas com a França, a Flandres e a Grã-Bretanha. Cria uma considerável frota 
marítimo-comercial, supervisionada pelo almirante genovês Manuel Pessanha. 
 Em 1308 é organizada a marinha portuguesa. 
 O país é tão bem orientado económica e financeiramente que D. Dinis faz, por três 
vezes, empréstimos ao rei de Castela no valor de alguns milhões de maravedis.
 É ainda, com muita sabedoria e diplomacia, que D. Dinis consegue que os bens da Ordem 
dos Templários sejam transferidos para a Ordem de Cristo.
 A Ordem dos 
Templários tinha sido fundada, por cavaleiros franceses, em 1118, em 
Jerusalém, para proteger os peregrinos. Esta Ordem tornou-se riquíssima, devido às doações que 
os monarcas, de todos os países, lhe entregavam como prova de gratidão pela sua valentia. 
Era senhora de muitos castelos, emprestava dinheiro a reis, a papas e a príncipes. O rei de 
França, Filipe, o Belo (1285-1314), querendo apoderar-se daquela fortuna imensa acusou-os das piores 
baixezas, fez com que fossem julgados. O Grão-Mestre Jacques Molay e todos os cavaleiros que 
estavam em França. Depois de um julgamento injusto foram queimados e os bens confiscados. O 
Tesouro dos Templários desapareceu misteriosamente. O Papa Clemente V acabou com 
a Ordem em 1312. 
 D. Dinis, perante os factos precedentes, cria a Ordem de Cristo em 1319, com sede em Tomar, e transfere para 
ela todos os bens dos Templários. Ao mesmo tempo convence o Papa João XXII da justeza 
desta atitude. Os Templários tinham ajudado a consolidar, alargar e a povoar o país. Em 
Portugal, não havia motivo a queixas. 
 Desde D. Afonso Henriques que os Templários recebiam um terço daquilo que conquistassem.
 Os bens transferidos para a Ordem de Cristo foram, mais tarde, o suporte para 
os descobrimentos portugueses.
 
 
 D. AFONSO IV - O BRAVO
 (reinou de 1325 a 1357)
 
 Afonso IV, apesar de turbulento em termos de contendas internas, conseguiu, mesmo 
assim, que o reino se organizasse e fosse bem administrado. Fez entrega de forais a novas terras, 
 implementou a justiça.
 Apoiado na Ordem de Cristo, incrementou a marinha. Fez  repetidas viagens às Canárias e 
a zonas do mundo desconhecido, das quais só a Ordem detinha o segredo.
 Em 1331 instituiu, definitivamente, os 
juizes de fora, ou seja, aqueles que não eram 
da própria localidade para não haver a tentação a favorecimento ou a vinganças pessoais.
 O feitio belicoso e temperamental do rei, mal tomou conta do poder, fá-lo atacar o 
irmão bastardo, Afonso Sanches, confisca-lhe as propriedades e desterra-o. A seguir, envolve-se 
em lutas com o rei de Castela, Afonso XI, não só por divergências políticas, mas porque 
este, tendo casado com D. Maria, filha dele, a tratava mal. D. Afonso IV invade a Galiza e 
cerca Badajoz. Só o Papa e o rei Carlos VII de França o conseguem acalmar.
 Acaba por ajudar o genro, a pedido da filha. O reino de Castela ia ser atacado por 
um poderosíssimo exército mouro. A batalha vai-se dar a 30 de Outubro de 1340 nas margens 
do rio Salado. O rei português corre em auxílio do genro. A sua bravura é tal que os 
exércitos mouros do rei de Marrocos e de Granada são totalmente desbaratados. As riquezas aí 
deixadas são imensas. Ao rei português pertenciam metade dos despojos. Não aceitou nada.
 Aqui tens o protótipo do português: valente, ingénuo e desinteressado. Hoje em dia os serviços pagam-se. 
 As qualidades do rei eram muitas, mas as suas fúrias tinham, por vezes, consequências 
trágicas. Basta-nos recordar o episódio de Inês de Castro:
 O filho de Afonso IV, o futuro rei D. Pedro I, casou com uma infanta de Aragão, 
Dona Constança Manuel. Com ela veio Inês de Castro que era muito bonita e de famílias ricas 
e nobres da Galiza e de Castela. D. Pedro, depois da morte da mulher, passou a viver com 
ela, de quem teve quatro filhos. 
 A amizade do príncipe D. Pedro, aos irmãos e amigos de Inês era grande. Os 
fidalgos portugueses, temendo que isso pusesse em perigo a independência do reino, 
convenceram Afonso IV que Inês era perigosa. Os conselheiros do rei, Álvaro Gonçalves, Pêro Coelho 
e Diogo Lopes Pacheco, não encontraram melhor solução, para afastar os amantes, do 
que matá-la. 
 O príncipe ficou louco de dor. Voltou-se contra o pai. As pazes assinadas em 
Canaveses terminaram com o conflito mas não fizeram esquecer ao jovem príncipe a infâmia 
cometida contra uma mulher.
 No reinado de Afonso IV, o reino viu-se devastado por uma epidemia de peste negra 
que desertificou o País, mas que o rei soube corrigir promulgando leis a reprimir a mendicidade e a ociosidade, e mandando vir colonos de França para 
ocuparem as terras livres.
 
 
 D. PEDRO I - O JUSTICEIRO
 (reinou de 1357 a 1367)
 
 Foi curto o reinado deste rei sensato e magoado. Foi dele que os presidentes dos nossos 
dias beberam a ideia das presidências abertas. Percorreu o país de lés-a-lés. Fixava-se nas 
diferentes terras, às vezes, por mais de um mês. Aí despachava, aplicava a justiça, morigerava os 
costumes e governava. 
 Numa das suas estadias em Elvas, em 1361, fez reunir as Cortes; nelas, o povo 
insurge-se contra a intromissão da Santa Sé nos assuntos internos do país. D. Pedro ouviu as razões 
e instituiu o Beneplácito 
Régio, pelo qual o rei decretava que nenhum documento da 
Cúria Romana tivesse qualquer validade sem a aprovação do rei. Os prelados protestaram. D. 
Pedro I não os atendeu. 
 Por esta determinação, e sabendo como a Santa Sé era poderosa e a quem todos os reis 
e príncipes obedeciam, se pode ver até que ponto Portugal estava consciente da sua força.
 Os dez anos do rei D. Pedro foram dez anos de paz e desenvolvimento. Apesar de se 
ver confrontado com o flagelo da peste negra (derivada da falta de higiéne) conseguiu fomentar a economia e aumentar 
a riqueza do país. De onde se conclui que os exércitos e as guerras são os inúteis 
sorvedouros dos dinheiros públicos e a causa da miséria e da desgraça dos povos.
 Durante toda a vida, D. Pedro nunca esqueceu a bela Inês nem os seus "brutos 
matadores". Conseguiu deitar a mão a Pêro Coelho e fez-lhe arrancar o coração pelo peito, 
apanhou Álvaro Gonçalves e arrancou-lhe o coração pelas costas. Escapou Diogo Lopes Pacheco. 
O rei devia-o ter esquecido depois de ter saciado o desprezo e o ódio pelos infames 
matadores de mulheres indefesas.
 A Inês de Castro fê-la coroar rainha. A sua trasladação de Coimbra para Alcobaça, onde 
se encontram os belíssimos túmulos do rei e de Inês, são a prova evidente de "como é 
diferente o amor em Portugal".
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